Cristina Almeida
Esculturas
Sereias (série de 21 peças)
Sempre imaginamos as sereias no mar. Mas Cristina Bratttig Almeida nos apresenta as Sereias - Pássaro e as Sereias – Peixe. Com esta série, descobrimos que a dualidade, mote desta série, nasceu de uma necessidade de representar o cotidiano, em plena pandemia do ano de 2020. Algo como viver nas passagens, vivendo entre vírgulas. As sereias são essas representantes da mortífera dualidade homérica, do ser e do estar, a vida e da morte, da alegria e das tristezas, da liberdade e da clausura, do sim e do não.
As Sereias – Pássaro vieram primeiro, a exemplo dos relatos na arte e na literatura.
São figuras misteriosas, como esfinges, as figuras antigas da dualidade, elaboradoras das perguntas sem claras respostas. São representadas com a tônica na cabeça, voando, como silenciosas e prudentes observadoras. A figura do pássaro é o próprio conceito de dualidade, terra e ar. Os pássaros são figuras com o desejo incontido de liberdade, de silêncio, de individualidade, de experimentações. Há tons coloridos principalmente nas faces: a dualidade da cor explicitamente estampada.
As Sereias – Peixe, de acordo com as estórias, resultam das metamorfose que as Sereias – Pássaro sofreram na Idade média. É a figura da sedução, do engano, dos momentos entre vírgulas. As sereias -peixes ganharam tamanho e volume, bem como uma mescla de materiais, igualmente representantes da dualidade da matéria: os corpos foram modelados em argila, material frágil, e as caudas executadas em ferro, material resistente.
Em comum, percebemos a sensibilidade ao fogo. Igualmente pratos da balança da dualidade: sedução e perigo. As figuras foram modeladas com elementos masculinos e femininos: face, cabeça e mãos femininas, a delicadeza dos gestos sedutores, músculos e quadril masculinos, a força estampada fisicamente. Esta série representa o cotidiano da artista, terra, água e ar, pautado pela metamorfose, pelo desejo, pelo fogo, pela dualidade e pelo mistério da sedução.
O mundo da pandemia se revela aqui retratado - vida entre passagens, mundo entre vírgulas, mundo da dualidade.
Sandra Makowiecky
Professora de História da Arte e Crítica de Arte - UDESC









